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Criança com baixa estatura: e agora?
27 de setembro de 2021
Criança com baixa estatura: e agora?

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Entre tantas preocupações e dúvidas que podem surgir no consultório do pediatra, a questão da estatura da criança é uma das mais frequentes, muito implícita pela pressão social acerca da possível baixa estatura na vida adulta.


Assim, o pediatra precisa estar munido de informações sobre o processo de crescimento da criança para avaliar corretamente o estágio do seu desenvolvimento, orientar os pais sobre os fatores que influenciam e como eles podem ajudar desde a gestação.


Dada a importância e recorrência da temática, este artigo busca auxiliar o pediatra a compreender o processo de crescimento de um indivíduo, sabendo identificar claramente quando a criança possui baixa estatura e se isto é oriundo de alguma patologia.


Crescimento: fatores determinantes 

Antes de falarmos propriamente sobre o que caracteriza a baixa estatura, vamos destacar o processo de crescimento do indivíduo, os fatores que influenciam nesse crescimento e que podem gerar uma baixa estatura. 


Os fatores que influenciam no crescimento acontecem tanto no período pré-natal quanto no pós-natal e ambos são divididos entre fatores internos e externos, como veremos a seguir:


Fatores pré-natais

Os fatores pré-natais são caracterizados como fatores internos e externos ao indivíduo, sendo o primeiro grupo referente à sua carga genética e ao seu sistema endócrino em desenvolvimento. 


Já os fatores externos dizem respeito ao ambiente intrauterino e à saúde e nutrição da mãe. Este último tem maior relevância no desenvolvimento geral do bebê e isso também recai sobre o crescimento. 


Portanto, peso e altura da criança serão influenciados se a mãe não tiver uma boa alimentação durante a gestação ou se possuir alguma patologia, como diabetes gestacional ou hipertensão.


Fatores pós-natais

Os fatores pós-natais também são divididos em internos e externos ao indivíduo, onde os primeiros também estão relacionados ao sistema endócrino e carga genética da criança e os fatores externos, principalmente ao aporte nutricional que a criança recebe.


 Além disso, também são importantes a prática de atividade física, atividades psicossociais e promoção da saúde (ausência de patologias agudas e crônicas e viver em um ambiente acolhedor, seguro, promotor de seu pleno desenvolvimento)


É importante lembrar que, naturalmente, a criança cresce mais no estágio gestacional na proporção tamanho X tempo do que durante toda a vida.


Ao nascer, há um novo episódio de crescimento acelerado, porém menor se comparado ao pré-natal, que vai dos 0 aos 2 anos e, depois, há outro momento de aceleração do crescimento no período da puberdade, quando ocorre o estirão de crescimento puberal. 


Fora desses períodos, a velocidade de crescimento é menor. Então, o médico precisa ficar atento crescimento linear  da criança, acompanhando-a desde a gestação, se ancorando nas curvas de crescimento e tabelas de velocidade de crescimento que sejam referências confiáveis para analisar cada caso.


PIG: pequenos para idade gestacional

Dentro da avaliação do crescimento e acompanhamento de crianças com baixa estatura, o médico deve estar atento àqueles que foram  recém-nascidos Pequenos para a Idade Gestacional (PIG).


 Nesses casos, devemos ter atenção àqueles cujo peso e/ou comprimento ao nascer foram menores que 2 desvios -padrão do esperado à idade gestacional e sexo ou àqueles que durante o acompanhamento pré-natal foi percebida restrição de crescimento intra-uterino importante, mesmo que não tenha atingido o marco de -2DP.


Embora a maioria das crianças que nascem nessas circunstâncias tenham recuperação de crescimento até os 4 anos de idade e atinjam o padrão de crescimento esperado à idade e padrão familiar, cerca de 10 a 15% das crianças não realizam a recuperação total do crescimento, chamado catch-up e mantém baixa estatura, tendo benefício de tratamento com hormônio de crescimento e necessitando acompanhamento metabólico específico.


Como avaliar a estatura da criança

Alguns pontos são essenciais para avaliar com segurança a estatura de uma criança e então poder definir se sua estatura está ou não adequada à sua idade.


Estadiômetro

O uso do estadiômetro adequado é muito importante para a aferição correta da estatura da criança.


Nos primeiros anos de vida, utilizamos o estadiômetro de uso deitado, em que colocamos o bebê em uma superfície rígida e que possua anteparos para os pés e a cabeça, sendo que os dois pés devem encostar no anteparo, deixando-o assim em uma posição estável para a aferição correta.


Recomenda-se que esse tipo de aferição seja realizada até os dois anos, podendo ser realizada até os 3 anos, para aqueles que ainda não tem altura necessária ao estadiômetro de parede.


A partir de então, é possível realizar com a criança em pé, mas ainda assim usando um aparelho  preciso na medida.


 Sempre que possível certificando-se que calcanhares, panturrilhas, quadris, escápulas e occipicio estão encostados no anteparo e a linha que liga o canto dos olhos a orelha está perpendicular ao anteparo em 90º exatos.


Qual curva de referência usar?

Ao obter os dados, é preciso usar uma curva de referência para interpretar a altura da criança.


Existem duas curvas de referência mais usadas internacionalmente, além de aplicativos que podem auxiliar o médico nessa medida.


A primeira indicada é a curva da OMS, que é dividida em dois blocos (uma de 0 a 5 anos de idade e outra de 05 a 19 anos) e que foi construída com base em crianças de 6 países, entre os quais, o Brasil. O Ministério da Saúde orienta utilizar esta curva.


A segunda é a curva de referência do CDC dos Estados Unidos e que  usa os dados somente de  crianças dos Estados Unidos.


A curva da OMS, por questões de metodologia, só tem dados de referência de peso até 10 anos de idade e de estatura e IMC até 19 anos.


Uma sugestão para o pediatra é utilizar somente a curva da OMS ou então, até 5 anos de idade a da OMS e após combinar os dados das duas curvas de referência.


Sugestão de aplicativos

Existem ainda aplicativos que podem auxiliar o pediatra no acompanhamento do crescimento da criança.


  • Who Anthro Plus - é um software da OMS para consultar a velocidade de crescimento da criança. Só roda em windows;
  • Pediatric Growth Charts - faz curvas OMS e CDC e dá o valor em percentis;
  • Growth Chart CDC - faz curvas OMS e CDC e dá o valor em percentis e Z score;
  • Who Standards - Aplicativo pago. Usa dados da OMS e dá o valor em percentis e Z score;
  • Medscape - usa dados da CDC e dá o valor em percentis e Z score.



Cálculo da Canal Familiar

Além de comparar  a criança com os dados padrão de sua idade e sexo pela curva de crescimento,é preciso também fazer o cálculo do canal familiar, para comparar seus dados à sua genética. 


Para meninas: deve-se somar a altura do pai à altura da mãe, subtrair 13 e dividir por dois.

Para meninos: deve-se somar a altura do pai à altura da mãe, adicionar 13 e dividir por dois.


Esse valor encontrado é a altura alvo esperada. Em ambos os casos, ainda deve considerar uma variável de 8,5 cm para mais e para menos sobre o resultado encontrado para definir o canal esperado (+- 2DP).


Velocidade de crescimento esperada por idade

Para que o médico possa avaliar corretamente se a criança tem baixa estatura atípica para a idade e que necessite de uma observação e investigação das possíveis causas, ele pode também tomar como base dados sobre o que espera em relação à sua velocidade de crescimento, conforme a tabela a seguir:


Durante o acompanhamento do crescimento, o médico vai observar que ele não é linear e que o crescimento por mês pode variar. Por isso, qualquer diagnóstico não pode ser realizado com uma avaliação única ou de curto intervalo. Recomenda-se avaliar períodos mínimos de seis meses para poder constatar se o crescimento segue seu curso dentro do esperado ou se há algum atraso atípico.


Causas da Baixa Estatura

Para considerar que a criança tem uma baixa estatura fora do que se espera para a idade e o sexo, ela precisa estar ao dois desvios padrão abaixo da média esperada.


Isso é visto quando plotamos a altura na curva de referência e ela se encontra abaixo da linha de -2DP ou do terceiro percentil. Pelos aplicativos também é possível identificar quando eles definem que a altura é menor que -2DP.


Entre as causas possíveis que podem levar a baixa estatura, as deficiências hormonais não são as mais frequentes, pelo contrário, são raras. A maioria das crianças (60%) tem causas isoladas sendo sua grande maioria dentro das variantes da normalidade (baixa estatura familiar e atraso constitucional do crescimento e da puberdade, ou “maturador lento”.


É necessário conhecer as variantes da normalidade para tranquilizar os pais quanto ao crescimento da criança.Esse conhecimento é fundamental também para o médico identificar sinais de alarme, quando não é o caso de uma variante da normalidade e encaminhar para o tratamento adequado.


A baixa estatura familiar ocorre quando os pais já apresentam estatura desviante da maioria da população e a criança vai seguir o seu potencial genético, para seu diagnóstico, o canal familiar é essencial. 


Já o atraso constitucional do crescimento e da puberdade ocorre quando há variação na velocidade de maturação, ou seja, a criança tem uma velocidade de maturação mais lenta que o seu grupo e demora mais tempo para finalizar seu crescimento. 


Nesse caso, a idade óssea atrasada, porém com altura corrigida para a idade óssea normal ao padrão familiar e uma velocidade de crescimento normal para a idade porém no limite inferior são definidores 


Se quiser se aprofundar no assunto, é muito importante fazer uma especialização em puericultura e em patologias. 


Para avaliar corretamente a velocidade do crescimento e outras temáticas do desenvolvimento da criança, conheça a  Especialização em Puericultura com Patologias da Eludivila.

Por Eludivila Especialização Pediátrica 18 de junho de 2024
A Displasia do Desenvolvimento do Quadril em bebês (DDQ) é uma doença que acomete 5 a cada 100 crianças e que pode levar a dificuldade de mobilidade, dor e outros problemas ortopédicos. Neste artigo especial da Eludivila Especialização Pediátrica , revisado pelo Ortopedista Pediátrico, David Gonçalves Nordon (CRM 149.764) , reunimos as principais informações que pediatras gerais precisam saber a respeito da displasia do desenvolvimento do quadril em bebês. Assim, você poderá fazer um diagnóstico e tratamento corretos, além de fornecer boas orientações aos pais e cuidadores. O que é Displasia do Desenvolvimento do Quadril (DDQ)? Displasia do Desenvolvimento do Quadril (DDQ), conhecida antigamente como luxação congênita do quadril, é uma patologia ortopédica, que acontece quando a curva do acetábulo não se desenvolve corretamente . Isto é, a cavidade da articulação do quadril se apresenta de maneira que facilita uma subluxação ou luxação do quadril. Todas as variações dentro desse espectro se enquadram, atualmente, no que definimos como DDQ. O resultado são problemas de estabilidade, mobilidade, posicionamento da articulação, dores articulares, dificuldade do bebê para engatinhar, dentre outros. Em 60% dos casos, a DDQ acontece do lado esquerdo, 20% no direito e 20% dos casos são bilaterais. A propensão ao quadril esquerdo se dá pela posição em que a maioria dos bebês se encontram no útero, causando uma pressão do sacro nesse lado. Causas e Fatores de Risco da DDQ A Displasia do Desenvolvimento do Quadril em bebês pode ter algumas causas, dentre elas a posição intrauterina do feto , que pode forçar o quadril a sair do lugar, e fatores hereditários , que causam predisposição genética. Podemos subdividir os fatores de risco associados ao desenvolvimento da DDQ em quatro grupos: 1. Alterações do continente (útero) Quando o útero aperta o quadril do bebê, o que pode ser causado por diversos motivos, como: Oligoidrâmnio, quando o volume de líquido amniótico está abaixo do esperado para a idade gestacional e causa essa pressão; Primeira gestação, pois o útero costuma estar mais rígido; Útero com alguma fibrose, cicatriz ou deformidade; Gestação gemelar. 2. Fatores de risco relacionados ao conteúdo É o caso de gestações com bebês que: São grandes para a idade gestacional (GIG); Movimentam-se pouco dentro do útero, por diversas razões; Com apresentação pélvica, posição que pode aumentar em até 21 vezes o risco de DDQ. 3. Fatores genéticos Em relação à predisposição genética, é possível apontar como fator de risco para a displasia de quadril: Bebês do sexo feminino, que aumenta em até 9 vezes o risco de DDQ, já que os hormônios circulantes femininos (estrogênio e progesterona) aumentam a flexibilidade das articulações e a frouxidão ligamentar; Histórico familiar positivo, que pode ser, na verdade, desde um familiar que efetivamente tratou uma DDQ, até algum familiar com um desgaste precoce do quadril (ou seja, artrose do quadril em torno dos 30 a 50 anos), que geralmente é causada por uma displasia leve não diagnosticada e, portanto, não tratada na infância. 4. Fatores extrauterinos São os fatores que acontecem após o nascimento do bebê e que devem ser orientados pelo pediatra, como: Uso do “charutinho” com as pernas juntas e esticadas; Uso de outros acessórios que podem contribuir para que o quadril do bebê saia do lugar, como carregadores e andadores. Leia também: Assimetria craniana em bebês: Guia completo para pediatras Sinais e Sintomas da Displasia do Quadril Após avaliar os fatores de risco, os pediatras devem estar atentos a alguns sinais que os bebês podem apresentar, como: Assimetria das nádegas (a assimetria das pregas isoladamente, porém, não tem significado clínico; precisa haver outros sinais para se pensar em DDQ); Limitação de movimento do quadril, com dificuldade na abertura das pernas (pode ser observado na troca de fraldas, por exemplo); Claudicação. Como fazer o diagnóstico e avaliação da DDQ Bom, mas então, como fazer a avaliação em consultório para detectar uma possível DDQ no bebê? Além da observação dos sintomas apontados pelos pais, é necessário fazer o exame clínico, além de solicitar ultrassonografia do quadril . Dentre os principais métodos diagnósticos em consultório estão: Manobra de Ortolani: detecta o deslizamento posterior do quadril para dentro do acetábulo e mostra o quadril luxado. Indicado para realização até os três meses de idade do bebê. A manobra de Ortolani, entretanto, é bastante falha: ela perde o diagnóstico em 95% dos casos leves e 50% dos casos graves, com o quadril efetivamente luxado; Manobra de Barlow : detecta o deslizamento do quadril para fora do acetábulo, evidenciando o quadril que é passível de luxação e também deve ser feito até os três meses. É igualmente pouco confiável; Manobra de Hart: após os três meses, esse é o exame mais indicado, já que Ortolani e Barlow normalmente estão negativos, mesmo que o quadril esteja luxado. Se você quer aprender a realizar as manobras adequadamente, a Eludivila conta com aulas completas na Especialização em Puericultura com Patologias, com módulo específico para ortopedia. Acesse agora e amplie o seu conhecimento para além da residência médica Quando pedir um ultrassom do quadril? No Brasil, não há um protocolo específico de quando pedir o ultrassom. Aqui no Eludicar Centro Materno-Infantil, a conduta é fazer o screening universal , ou seja, solicitamos o ultrassom para todos os pacientes, a partir das 3 a 4 semanas de vida do bebê. Nos casos em que o bebê apresenta fatores de risco (apresentação pélvica, oligoidrâmnio, gemelares), o ideal é fazer a ultrassonografia na primeira semana de vida. Para definir o tratamento, você pode utilizar o método Graf para ultrassonografia articular, que divide em graus o nível de alteração: 1A e 1B: quadris maduros 2A: pode ser dividido em 2A+ (deve-se repetir o exame em um mês) e 2A- (recomendamos o tratamento, conforme orientações do protocolo europeu, proposto pelo Dr. Graf em 2022, já que há evidências de uma possível artrose no futuro); 2B: quadril alterado após os três meses de idade, que indica tratamento; 2C, 2D, 3 e 4: quadril alterado, que necessita tratamento. Interpretar o resultado do ultrassom pode ser desafiador, por isso recomendamos assistir ao estudo de caso clínico realizado pelo Dr. David Nordon, ortopedista pediátrico do Eludicar. Tratamento e Manejo da DDQ
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