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Dúvidas sobre amamentação são recorrentes no consultório pediátrico. Imagine, então, quando a amamentação é para duas ou mais crianças em idades diferentes! Sim, é possível e chamamos o evento de amamentação em tandem.
Tal qual a amamentação comum, a amamentação em tandem é permeada de
mitos. E foi para desmistificar alguns deles que decidimos criar este rápido artigo.
A ideia aqui é ajudar você, colega pediatra, a passar a se preparar para receber as dúvidas, tratá-las com segurança e acolher a mãe e a rede de apoio com informação.
Preparado? Boa leitura!
Mitos e verdades sobre Amamentação em Tandem
1 - A produção de leite reduz
Mito! A produção de leite não é reduzida pela amamentação em tandem.
É natural, sim, que a quantidade de leite produzido reduza durante a gestação, devido às alterações típicas da gravidez e, principalmente, ao aumento da progesterona. Mas, após o nascimento do bebê, o corpo se adapta e a produção retoma o seu fluxo normal, atendendo à demanda das duas crianças.
2 - A mãe não produz mais colostro
Mito! A produção de colostro não será impactada com a amamentação em tandem. Logo, o colostro também não reduzirá durante a amamentação simultânea de duas crianças. O mais importante nesse período é priorizar a oferta para o recém nascido e não para a criança mais velha, já que o colostro para o bebê que acaba de nascer tem um papel muito importante.
Outra observação que se deve fazer quanto a isso é que o colostro pode ter um efeito laxativo na criança mais velha que está sendo amamentada durante a gravidez. Por isso, é importante orientar que a mãe observe se a criança apresentar tal sintoma.
3 - O gosto do leite muda
Verdade! A composição do leite durante a gestação muda e, consequentemente, o sabor do leite também. Assim, pode ser que a primeira criança perca o interesse no leite e entre em processo de desmame, tanto pela mudança do sabor como pela diminuição do volume do leite durante a gestação.
Há evidências de que cerca de 26% das crianças mais velhas em amamentação em tandem rejeitam a amamentação pelo sabor diferente do leite.
4 - O recém-nascido deve mamar primeiro
Depende muito da situação! Em geral, a recomendação é que, pelo menos na fase de colostro, o recém-nascido seja a prioridade.
Mas, como dissemos, o corpo da mãe se ajusta à demanda dos seus bebês. Por isso, há casos em que o corpo pode acelerar a transição do leite de colostro para o leite maduro e o recém-nascido não receber colostro suficiente para uma nutrição plena e adequada.
Após a fase de colostro, a ordem de amamentação fica a critério da mãe e da necessidade das crianças.
5 orientações para uma melhor Amamentação em Tandem
Além de desmistificar o tema, é importante que o pediatra saiba
orientar a mãe para que ela realize a amamentação de forma confortável para si e para as suas crianças.
1 - Posição e dinâmica da amamentação
A mãe pode viver uma experiência desconfortável de ter dois bebês em idades diferentes mamando ao mesmo tempo. Isso porque o primeiro já terá um comportamento mais maduro e mais independente de posição, mamando em pé, por exemplo.
Já o mais novo precisará ainda de auxílio da mãe, na pega, no encaixe com o corpo. Além disso, a sucção dos dois se dará de forma e com estímulos diferentes.
Nesse caso, o pediatra pode orientar a mãe a amamentar os filhos em momentos diferentes.
2 - Higienização da mama
Não é preciso haver uma higienização rigorosa da mama pelo fato de a mãe amamentar duas crianças. Basta manter a higienização usual e ficar atento caso observe sinais de candidíase mamária.
3 - Produção de leite mais consistente
Importante ainda a mãe ter conhecimento de que, em uma segunda gravidez, a produção de leite pode se dar de forma mais intensa. Assim, a produção tende a melhorar em função daquele corpo já estar preparado, com glândulas mamárias plenamente desenvolvidas.
Esse fato deve ser considerado pois provavelmente o fluxo de leite da primeira amamentação será diferente da segunda, mudando a experiência e dinâmica.
4 - Filho mais velho querendo voltar a mamar
A amamentação em tandem pode ocorrer também quando o filho mais velho já tiver desmamado e queira voltar a mamar com a presença da segunda criança.
É importante considerar o que leva a esse comportamento, como por exemplo:
1) curiosidade ao ver o irmão sendo amamentado;
2) passado de um desmame precoce;
3) carência afetiva e/ou ciúmes.
A dúvida da mãe pode residir se volta a amamentar ou não o filho mais velho e aqui o pediatra precisa conhecer o contexto dessa criança e da família para orientar da forma mais adequada e individualizada.
5 - Julgamentos da família
Boa parte das inseguranças dos pais na amamentação em tandem ocorre em função da opinião e do julgamento de terceiros.
Aqui, cabe ao pediatra nutrir os pais com informações, como as que aqui foram apresentadas, para que tais dúvidas deixem de existir e essa amamentação seja o mais tranquila e segura para a mãe, o filho mais velho e para o recém-nascido.
Resumindo…
Aqui, levantamos algumas dúvidas sobre a amamentação em tandem, que costumam ser ancoradas em mitos ou até em equívocos do senso comum. Como você pode perceber, ela não oferece risco à saúde da mãe, do primeiro filho ou do bebê recém-chegado.
Afinal, a amamentação é nutrição e um ato natural do laço entre mãe e filho.
Mas, é essencial que o profissional aprofunde ainda mais sobre o tema para orientar e informar a mãe sobre as melhores formas de realizar, sem traumas, ou prejuízo à nutrição das crianças. Por isso, estude bastante o tema, e compreenda também o contexto de cada família.
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