Blog >
Autor:
O aleitamento materno é a melhor opção nutritiva para bebês no primeiro semestre de vida. O incentivo à amamentação cabe ao pediatra, para além do papel informativo, na forma da atenção e antecipação às possíveis dificuldades que serão enfrentadas pela família nesse momento. Sabemos que, quanto mais precocemente conseguirmos estabelecer a amamentação, menores as chances de um desmame precoce.
Quando algo impede o contato mãe - bebê ou a amamentação propriamente dita, nos primeiros momentos de vida, o desafio fica ainda maior. Conhecer técnicas que possibilitem o resgate desse aleitamento ou sua manutenção, no caso de mães que não poderão amamentar exclusivamente, faz a diferença no seguimento dessa criança
Por muito tempo a relactação teve seu potencial subestimado. Acontecia muito mais como prática isolada de valor cultural em algumas comunidades e etnias, mas passou a ser estudada recentemente como estratégia para o estabelecimento tardio da amamentação, ganhando uma gama ampla de possibilidades de aplicação e tornou-se, portanto, foco de atenção dos profissionais da saúde.
O que é relactação?
A relactação refere-se, a rigor, a mulheres que já estiveram grávidas em algum momento da vida e querem voltar a produzir leite para alimentar um bebê, que pode ou não ser seu filho biológico. O termo indução da lactação abrange os casos de mulheres que nunca estiveram grávidas e têm o mesmo objetivo. Assim, a relactação refere-se a tornar a mulher capaz de produzir leite.
Essa definição, embora seja estruturalmente e formalmente utilizada nas publicações científicas, está um pouco ultrapassada. Mesmo os textos clássicos a respeito do assunto são bastante antigos. Hoje, podemos compreender as técnicas que existem sob o nome de relactação para além da indução da produção láctea.
Existem diversas situações clínicas em que elas podem ser empregadas para se manter a oferta de leite através do seio quando a complementação é inevitável (hipoplasia mamária ou bebês múltiplos, por exemplo). Nesses casos, ainda que não seja possível que o bebê receba leite materno exclusivamente, ele não precisa deixar de recebê-lo - o que carrega muitos benefícios a curto e longo prazo.
E o que é translactação?
Translactação é um termo por vezes usado como sinônimo de relactação, mas define, essencialmente, o método pelo qual se busca estimular a produção de leite.
Alguns autores entendem o termo translactação quando o leite ofertado pela técnica descrita é o leite materno propriamente dito e chamam de relactação quando oferta-se fórmula ou leite humano pasteurizado no lugar.
Qual a técnica?
A técnica pode ser realizada de diversas formas e existem produtos no mercado que se propõem a facilitar o processo. Pode-se usar uma sonda nasogástrica e um recipiente (que pode ser um copo, mamadeira ou seringa) ou pode-se optar pela compra de kits completos.
De qualquer maneira, é importante lavar os materiais após o uso e realizar a troca da sonda periodicamente, embora não haja evidência científica de uma frequência recomendada. Orienta-se observar a presença de sujidades visíveis no trajeto da sonda e testar sua perviedade passando água ou soro com uma seringa, por exemplo.
A técnica consiste em oferecer leite (materno ou fórmula) ao bebê enquanto ele suga o seio materno. Para isso, utiliza-se um dispositivo específico para esse fim ou uma sonda nasogástrica número 4, com a ponta aparada. Uma extremidade fica imersa num recipiente com leite e a outra fica próxima ao mamilo, podendo ou não ser fixada ao seio, com fita crepe ou esparadrapo.
A ponta que fica fixada no seio deve acompanhar a projeção do mamilo dentro da boca do bebê. Ajustes podem ser necessários, especialmente nas primeiras vezes.
Embora pareça complexo, esse procedimento todo se apóia e se justifica pela fisiologia: a prolactina é o hormônio central na regulação da produção de leite. Ela estimula o crescimento dos alvéolos secretores no tecido glandular mamário e a produção de leite nesses alvéolos. Esse hormônio é estimulado pela sucção mamilar e inibido pelo represamento de leite nos seios.
Por isso, quando a estratégia visa o restabelecimento da amamentação, proporcionar momentos prazerosos do bebê mamando ao seio tem uma potência enorme. E por isso mesmo, quando indicada, é preciso que a técnica de amamentação em si (pega, posição etc) estejam bem estabelecidas.
Quando a relactação é aconselhada?
Infelizmente ainda não são raros os casos em que a prevenção e o cuidado de rotina falham ou são insuficientes, o que leva a uma interrupção ou manejo inadequado da amamentação nos estágios precoces.
Em outros casos, há aspectos diversos e mesmo da saúde do recém nascido ou da mãe que impossibilitam a amamentação exclusiva num determinado momento. São exemplos: prematuridade extrema, doenças que cursam com hipotonia, rejeição do seio materno por confusão de bicos, confusão de fluxo, baixo ganho de peso com indicação de complementação, baixa produção de leite pela mãe, adoção, etc.
Em outros cenários ainda, embora haja desejo de amamentar e todo o investimento seja feito, por questões anatômicas e funcionais, o processo ocorre, mas não em volume suficiente para que seja a alimentação exclusiva.
Seja qual for a situação, se há desejo e disponibilidade de amamentar, a relactação pode ser apresentada como opção.. As famílias têm o direito de conhecê-la e entender seu potencial para que não sejam induzidos a desistir de algo que tem um valor tão singular.
O aleitamento ao seio materno pode significar um estreitamento de vínculo, embora, é claro, não seja condição para isso. Todo e qualquer momento de interação entre a mãe e o bebê são oportunidades para isso e deve-se sempre estimular as possibilidades de interação entre os dois.
A ideia aqui é muito mais ampliar a visão de que a amamentação continua sendo possível, a despeito de percalços, se for um desejo da família.
Existe um limite de idade para a relactação?
Não existe idade mínima nem máxima. Deve-se levar em conta a indicação, o objetivo do emprego da técnica e as expectativas familiares. Nesse sentido, prevalece a avaliação individualizada.
Existem situações em que a relactação não é aconselhável?
Levando em conta o efeito da técnica na fisiologia mamária, seu emprego não faz sentido nas situações de contraindicação absoluta à amamentação em si, como uma mãe vivendo com HIV, por exemplo.

Assine nossa Newsletter
Cadastre-se e receba novidades e dicas da Eludivila
em seu e-mail.