Blog >

Existe regressão do sono?
2 de outubro de 2020
Existe regressão do sono?

Autor:

Ananda Ise

O sono é um aspecto bastante sensível e dinâmico no desenvolvimento da criança e provavelmente por isso mesmo, a regressão do sono é um dos assuntos mais recorrentes no consultório de Pediatria.


O padrão de sono vai sofrendo mudanças com o crescimento e apresenta diferentes aspectos em cada idade. A proporção de sono REM e não-REM, as influências hormonais, ambientais e biológicas têm contribuições variáveis ao longo do tempo e são pontos de atenção. Além disso, o constante e intenso aprendizado com que as crianças estão lidando impacta diretamente seu sono (como nós adultos, quando iniciamos um trabalho ou projeto novo).


Momentos de variação do padrão de sono podem e vão acontecer nas crianças saudáveis. Geralmente são motivo de cansaço e frustração para as famílias e, invariavelmente, o pediatra é chamado a atuar quando isso acontece.


Quando os pais têm informações consistentes e de qualidade conseguem entender e lidar melhor com esses períodos. Entender que se trata de algo transitório também é importante para que respeitem o ritmo da criança e ofereçam o melhor cuidado possível.


Para saber mais sobre as variações e a regressão do sono, confira!


O que é a regressão do sono?

São momentos em que o sono do bebê ou da criança muda de padrão - passam a haver mais despertares noturnos, maior dificuldade de realizar as sonecas, mudança no horário de ir dormir, etc.


Assim, popularizou-se o termo "regressão" porque, sendo o sono um processo de aprendizado, dá a impressão de que a criança voltou para um estágio anterior. Naquele na qual ela dormia menos, por períodos mais curtos e tinha mais dificuldade de adormecer sozinha.


Talvez um nome melhor fosse, contudo, turbulências do sono? No entanto, esses momentos acontecem em períodos de crescimento acelerado ou sedimentação de aprendizado. É bem comum que aconteça, por exemplo, entre o terceiro e quarto mês de vida. Nesta fase o bebê está saindo do período de exterogestação, se voltando mais para o mundo externo, cheio de curiosidade por aprender como tudo aqui fora funciona.


É muita informação nova para processar e armazenar - funções que são exercidas em grande parte durante o sono. Por isso, afetam o descanso dos pequenos.


Até os três meses

É a fase que o bebê ainda está na exterogestação e começa a ter um padrão próximo ao adulto.


Nessa fase, o bebê se parece muito mais com um feto do que com um bebê ou criança aqui fora. Seu comportamento, formas de acalento, necessidades fisiológicas estão ainda muito ligadas ao período da gestação.


Por isso, nesse período, o sono ainda é bastante desorganizado - os ciclos são mais curtos que no sono adulto e a necessidade de colo para conseguir dormir é grande.


Uma queixa comum é a de que o bebê sempre acorda ao ser colocado no berço ou no carrinho. Bem, ele está se comportando exatamente como deve e respeitar esse momento também é contribuir para seu desenvolvimento de maneira saudável. Em breve ele mesmo terá e será capaz de lidar com as rotinas da família.


Até os 10 meses

Esse período conta com vários acontecimentos marcantes na vida do bebê - uma nova forma de se alimentar (introdução alimentar), nascimento dos dentes, início da vocalização para comunicação verbal e muitos outros!


Assim, é um período de muitas mudanças e que acontecem bem rápido, exigindo da família uma boa dinâmica no trato com os bebês. As necessidades de sono podem aumentar ou diminuir, as sonecas podem ficar mais fáceis ou difíceis e os pais podem ter dificuldade de acompanhar esse ritmo.


Conversar sobre tudo isso, oferecendo um panorama amplo do que está acontecendo com o bebê, ajudar a reconhecer sinais de sono e trabalhar na comunicação entre família e criança são algumas coisas que devem estar no radar do pediatra.


Até 18 meses

Este período continua sendo marcado por aquisições importantes no campo motor, de linguagem e interações sociais. Isso porque a criança está descobrindo como brincar junto com outras, aperfeiçoando a comunicação pela fala e tudo isso se acumula em aprendizado para ser processado.


Além disso tudo, é em geral nessa época que a dentição termina de se formar, com o nascimento dos molares. Esse evento pode passar despercebido para algumas crianças, mas para outras, gera dor e incômodo, pois são dentes grandes e sua erupção pode ser mais ou tão turbulenta quanto a dos primeiros dentes.


Como lidar?

Para te ajudar, separamos algumas dicas para conseguir lidar melhor com a regressão do sono e instruir os pacientes. Confira:


Reconhecer o comportamento do bebê durante o sono

Acontece que muitas vezes o bebê pode resmungar quando ele está na fase de transição do sono o que faz muitos pais desconfiarem de um possível sintoma de regressão do sono. Por isso, o primeiro passo é verificar se o bebê está realmente acordado, para não despertá-lo, caso você vá pegá-lo no colo.


Na transição de um ciclo de sono para outro sempre ocorre a superficialização do sono. Isso também acontece com adultos, mas como já aprendemos a dormir sozinhos, muitas vezes nos viramos e voltamos a dormir sem perceber.


O bebê pode resmungar, emitir sons, se mexer nesses momentos sem, necessariamente, acordar. Ele pode justamente estar tentando voltar a dormir sozinho e dar a oportunidade para que faça isso é fundamental no aprendizado.


Rotina familiar

Rotinas consistentes ajudam e muito a lidar e evitar a regressão do sono. Isso porque explicam ao bebê, na prática, como a casa e a família funcionam e transmitem segurança no ambiente. Assim, aos poucos essa rotina vai sendo internalizada.


Isso também ajuda os pais a conhecerem seus bebês, entendendo o que ajuda e o que atrapalha seu sono, permitindo que seja feito um manejo no sentido de facilitar o ritmo da casa.


Interferências da luz ambiente no sono

A luz pode ser um dos potencializadores na irritação do bebê e um dos principais causadores da regressão do sono. Por isso, evite abajures e objetos com luz branca no quarto do bebê.


Além disso, dentre os mecanismos do sono, os fatores hormonais são bastante sensíveis nos bebês e crianças menores. Assim, a produção de melatonina e cortisol segue um ritmo circadiano melhor definido que nos adultos (que já estamos há muito tempo influenciados por luzes artificiais e telas).


A exposição ambiental tem grande valor nesse sentido. A luz branca é capaz de inibir a produção endógena de melatonina e, claro, isso terá efeito no sono. Assim, evitar a presença de telas, abajures e outros objetos que emitem luz branca nos períodos noturnos, no ambiente em que o bebê vai dormir, pode melhorar a qualidade de sono da criança.


Ambiente confortável

O sono é um momento de separação dos pais, do mundo - a criança fica sem contato com tudo isso enquanto dorme. Estar num ambiente acolhedor e confortável contribui para tornar esse momento prazeroso e tranquilo.


Nesse aspecto vale pensar no conforto térmico do bebê, com o uso de roupas adequadas para que não fique quente ou frio demais; uso de dispositivos como o swaddle que faz o famoso "charutinho" e acalma muito os bebês menores (cuidado com o posicionamento do quadril); introdução de músicas de ninar no ritual do sono e o que mais couber e fizer sentido na rotina da família.

Entendendo as mamadas da madrugada

É fato que os bebês acordam diversas vezes durante a noite para mamar. Isso tem explicações diversas e lindas. Um bebê em aleitamento materno exclusivo está se alimentando do que há de melhor para ele. Isso contribui para uma digestão facilitada e rápida, o que faz com que tenha fome em intervalos menores de tempo.


Quando está em livre demanda, pode fazer intervalos mais irregulares, variáveis com o quanto ele mama a cada vez e como está lidando com esse volume (como nós, adultos, que não nos alimentamos em todas as refeições da mesma quantidade de alimentos e não sentimos fome necessariamente nos mesmos horários todos os dias).


Em aleitamento materno, todo esse ritmo do bebê tem papel fundamental na modulação hormonal e na regulação da produção de leite materno. Nenhum par mãe-bebê funciona da mesma maneira, cada aspecto dessa relação é único.


A mamada da madrugada tem um impacto alto na produção de prolactina pela mãe, o que ajuda na produção de leite. Claro, contudo, que a privação de sono pode ser difícil para algumas pessoas e surgiram estratégias para minimizar os despertares noturnos dos bebês.


Uma delas consiste em acordar o bebê, antes que ele o faça sozinho, para oferecer uma mamada, por volta das 22h - 00h, na expectativa que ele fique mais saciado e faça um intervalo maior de sono na madrugada. Seria a chamada "mamada dos sonhos".


Alguns pontos exigem considerações cuidadosas a esse respeito: conforme exposto acima, nem todos os despertares ocorrem por fome. São parte do amadurecimento do ciclo de sono, portanto fazer uma mamada "extra" não é garantia de solucionar as madrugadas difíceis.


Esse geralmente é um horário em que o bebê faz um bom período de sono, potencializado por aspectos fisiológicos e hormonais. Considerando que dormir é um processo de aprendizado, parece ideal cuidar para que seja um momento bem aproveitado pelo bebê nesse sentido.


Lidando com a regressão do sono

Quando os pais tomam consciência de todos os processos que estão em andamento em seu bebê, em geral conseguem criar seus próprios mecanismos para lidar com os momentos mais difíceis respeitando o desenvolvimento da criança.


A decisão sobre como lidar com o sono do bebê e as madrugadas mais fáceis e mais difíceis é da família e acontece diariamente. Cabe ao pediatra ter um olhar sensível a cada família e seus aspectos particulares para contribuir com a busca pelo equilíbrio das relações.


Gostou das nossas dicas? Temos mais algumas que vão te ajudar a superar os desafios na clínica pediátrica, confira!

Por Eludivila Especialização Pediátrica 18 de junho de 2024
A Displasia do Desenvolvimento do Quadril em bebês (DDQ) é uma doença que acomete 5 a cada 100 crianças e que pode levar a dificuldade de mobilidade, dor e outros problemas ortopédicos. Neste artigo especial da Eludivila Especialização Pediátrica , revisado pelo Ortopedista Pediátrico, David Gonçalves Nordon (CRM 149.764) , reunimos as principais informações que pediatras gerais precisam saber a respeito da displasia do desenvolvimento do quadril em bebês. Assim, você poderá fazer um diagnóstico e tratamento corretos, além de fornecer boas orientações aos pais e cuidadores. O que é Displasia do Desenvolvimento do Quadril (DDQ)? Displasia do Desenvolvimento do Quadril (DDQ), conhecida antigamente como luxação congênita do quadril, é uma patologia ortopédica, que acontece quando a curva do acetábulo não se desenvolve corretamente . Isto é, a cavidade da articulação do quadril se apresenta de maneira que facilita uma subluxação ou luxação do quadril. Todas as variações dentro desse espectro se enquadram, atualmente, no que definimos como DDQ. O resultado são problemas de estabilidade, mobilidade, posicionamento da articulação, dores articulares, dificuldade do bebê para engatinhar, dentre outros. Em 60% dos casos, a DDQ acontece do lado esquerdo, 20% no direito e 20% dos casos são bilaterais. A propensão ao quadril esquerdo se dá pela posição em que a maioria dos bebês se encontram no útero, causando uma pressão do sacro nesse lado. Causas e Fatores de Risco da DDQ A Displasia do Desenvolvimento do Quadril em bebês pode ter algumas causas, dentre elas a posição intrauterina do feto , que pode forçar o quadril a sair do lugar, e fatores hereditários , que causam predisposição genética. Podemos subdividir os fatores de risco associados ao desenvolvimento da DDQ em quatro grupos: 1. Alterações do continente (útero) Quando o útero aperta o quadril do bebê, o que pode ser causado por diversos motivos, como: Oligoidrâmnio, quando o volume de líquido amniótico está abaixo do esperado para a idade gestacional e causa essa pressão; Primeira gestação, pois o útero costuma estar mais rígido; Útero com alguma fibrose, cicatriz ou deformidade; Gestação gemelar. 2. Fatores de risco relacionados ao conteúdo É o caso de gestações com bebês que: São grandes para a idade gestacional (GIG); Movimentam-se pouco dentro do útero, por diversas razões; Com apresentação pélvica, posição que pode aumentar em até 21 vezes o risco de DDQ. 3. Fatores genéticos Em relação à predisposição genética, é possível apontar como fator de risco para a displasia de quadril: Bebês do sexo feminino, que aumenta em até 9 vezes o risco de DDQ, já que os hormônios circulantes femininos (estrogênio e progesterona) aumentam a flexibilidade das articulações e a frouxidão ligamentar; Histórico familiar positivo, que pode ser, na verdade, desde um familiar que efetivamente tratou uma DDQ, até algum familiar com um desgaste precoce do quadril (ou seja, artrose do quadril em torno dos 30 a 50 anos), que geralmente é causada por uma displasia leve não diagnosticada e, portanto, não tratada na infância. 4. Fatores extrauterinos São os fatores que acontecem após o nascimento do bebê e que devem ser orientados pelo pediatra, como: Uso do “charutinho” com as pernas juntas e esticadas; Uso de outros acessórios que podem contribuir para que o quadril do bebê saia do lugar, como carregadores e andadores. Leia também: Assimetria craniana em bebês: Guia completo para pediatras Sinais e Sintomas da Displasia do Quadril Após avaliar os fatores de risco, os pediatras devem estar atentos a alguns sinais que os bebês podem apresentar, como: Assimetria das nádegas (a assimetria das pregas isoladamente, porém, não tem significado clínico; precisa haver outros sinais para se pensar em DDQ); Limitação de movimento do quadril, com dificuldade na abertura das pernas (pode ser observado na troca de fraldas, por exemplo); Claudicação. Como fazer o diagnóstico e avaliação da DDQ Bom, mas então, como fazer a avaliação em consultório para detectar uma possível DDQ no bebê? Além da observação dos sintomas apontados pelos pais, é necessário fazer o exame clínico, além de solicitar ultrassonografia do quadril . Dentre os principais métodos diagnósticos em consultório estão: Manobra de Ortolani: detecta o deslizamento posterior do quadril para dentro do acetábulo e mostra o quadril luxado. Indicado para realização até os três meses de idade do bebê. A manobra de Ortolani, entretanto, é bastante falha: ela perde o diagnóstico em 95% dos casos leves e 50% dos casos graves, com o quadril efetivamente luxado; Manobra de Barlow : detecta o deslizamento do quadril para fora do acetábulo, evidenciando o quadril que é passível de luxação e também deve ser feito até os três meses. É igualmente pouco confiável; Manobra de Hart: após os três meses, esse é o exame mais indicado, já que Ortolani e Barlow normalmente estão negativos, mesmo que o quadril esteja luxado. Se você quer aprender a realizar as manobras adequadamente, a Eludivila conta com aulas completas na Especialização em Puericultura com Patologias, com módulo específico para ortopedia. Acesse agora e amplie o seu conhecimento para além da residência médica Quando pedir um ultrassom do quadril? No Brasil, não há um protocolo específico de quando pedir o ultrassom. Aqui no Eludicar Centro Materno-Infantil, a conduta é fazer o screening universal , ou seja, solicitamos o ultrassom para todos os pacientes, a partir das 3 a 4 semanas de vida do bebê. Nos casos em que o bebê apresenta fatores de risco (apresentação pélvica, oligoidrâmnio, gemelares), o ideal é fazer a ultrassonografia na primeira semana de vida. Para definir o tratamento, você pode utilizar o método Graf para ultrassonografia articular, que divide em graus o nível de alteração: 1A e 1B: quadris maduros 2A: pode ser dividido em 2A+ (deve-se repetir o exame em um mês) e 2A- (recomendamos o tratamento, conforme orientações do protocolo europeu, proposto pelo Dr. Graf em 2022, já que há evidências de uma possível artrose no futuro); 2B: quadril alterado após os três meses de idade, que indica tratamento; 2C, 2D, 3 e 4: quadril alterado, que necessita tratamento. Interpretar o resultado do ultrassom pode ser desafiador, por isso recomendamos assistir ao estudo de caso clínico realizado pelo Dr. David Nordon, ortopedista pediátrico do Eludicar. Tratamento e Manejo da DDQ
Criptorquidia
Por Eludivila Especialização Pediátrica 30 de abril de 2024
Informações para pediatras sobre a Criptorquidia em bebês. Entenda as opções de manejo, como diagnosticar e orientar pais e cuidadores.
vacina da dengue
Por Eludivila Especialização Pediátrica 29 de março de 2024
Reunimos as principais informações sobre a vacina da dengue para que os pediatras possam orientar adequadamente seus pacientes.

Assine nossa Newsletter

Cadastre-se e receba novidades e dicas da Eludivila

em seu e-mail.

Contate-nos

Share by: