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Assimetria craniana em bebês: Guia completo para pediatras
jan. 11, 2024
Assimetria craniana em bebês: Guia completo para pediatras

Autor:

Eludivila Especialização Pediátrica

Embora seja um tema neurocirúrgico e muito específico desta área da medicina, a assimetria craniana é um ponto bastante relevante para a prática da puericultura, pois é um assunto frequentemente abordado nos consultórios de pediatria.


Muitos pediatras já se depararam com as queixas e preocupações de pais e cuidadores que observaram alterações no formato do crânio de seus bebês, ainda nos primeiros meses de vida após a realização do parto.


Neste artigo especial da Eludivila Especialização Pediátrica, validado pela neurocirurgiã pediátrica Renata Gobbato, reunimos as principais informações que pediatras gerais precisam saber a respeito da assimetria craniana.


Perguntas mais comuns entre pais e cuidadores


Quando notam a presença de anormalidades ou desigualdades, os pais ou cuidadores costumam levar suas dúvidas para a consulta de puericultura, muitas vezes preocupados e ansiosos com possíveis problemas.


Entre as perguntas mais frequentes estão:


  • A assimetria craniana é uma questão unicamente estética?
  • O fechamento da moleira é normal?
  • É necessário fazer um acompanhamento com outro profissional?


Também é comum que o paciente seja levado ao osteopata antes da consulta com o pediatra. O profissional pode fazer a indicação do uso de capacete, gerando uma outra dúvida prevalente: é necessário iniciar o uso de órteses?


Portanto, ainda que o pediatra não seja especialista na área da neurocirurgia, é importante que ele adquira conhecimento sobre o assunto para que tenha condições de oferecer o suporte necessário à família.

Vamos falar mais a respeito ao longo deste texto, continue lendo.


Assimetria craniana: entendendo a cranioestenose


A cranioestenose é uma condição caracterizada pelo fechamento prematuro de uma ou mais suturas cranianas do bebê. Ela pode ser de dois tipos: a estrutural, que chamamos de cranioestenose “verdadeira”, e a deformacional.


As suturas são as linhas de união entre os ossos do crânio e, normalmente, elas se fecham gradualmente à medida que a criança cresce. No entanto, na cranioestenose, essa fusão ocorre antes do tempo adequado.

Continue lendo para saber mais sobre os dois tipos.


Estrutural (ou verdadeira)


O crescimento do crânio acontece porque, onde há as suturas, é possível que haja osteogênese, e o crescimento do crânio ocorre perpendicularmente a essa sutura.


É justamente a abertura das suturas que permite o desenvolvimento do crânio. A cranioestenose estrutural, portanto, representa o fechamento precoce de uma ou mais suturas, levando à assimetria craniana. 

A prevalência da cranioestenose verdadeira é de uma a cada duas mil crianças, sendo muito menos comum do que a deformacional. Ela pode ser simples, quando apenas uma sutura está envolvida, ou complexa, quando são duas ou mais.


As simples são consideradas idiopáticas, ou seja, não há uma causa específica para o problema. Por outro lado, as complexas são sindrômicas, associadas a síndromes genéticas, em que também pode haver alteração da fusão facial.


Muitas vezes, a cranioestenose complexa apresenta uma fisionomia típica e, portanto, são casos muito mais raros nos consultórios de puericultura. Por isso, neste artigo, vamos nos aprofundar especialmente nas situações mais simples.


Importância da identificação no consultório


Quando há a cranioestenose verdadeira, com consequente crescimento inadequado do crânio, o desenvolvimento cerebral também pode ser prejudicado.


Isso porque ocorre uma desproporção entre o crescimento da calota craniana e do parênquima cerebral, podendo levar a um quadro de hipertensão intracraniana crônica e, em casos mais graves, a perdas neurológicas — além da questão estética, que geralmente é o motivo inicial da procura pelo atendimento médico. 


A maioria dos casos são tratados com intervenção cirúrgica em razão da falta de tratamentos clínicos disponíveis. Tratamentos conservadores são indicados em situações muito específicas, em que o neurocirurgião entende que há essa possibilidade.


O tempo é um fator muito importante, visto que crianças menores têm mais chances de cirurgias bem sucedidas e menor morbimortalidade. Crianças mais velhas podem operar, porém o risco cirúrgico é maior, especialmente em razão de maior dificuldade técnica. 



Deformacional


Os problemas deformacionais não devem ser chamados de cranioestenose, pois não são estruturais (ou, em outras palavras, verdadeiros, como mencionado anteriormente). Vamos explicar melhor abaixo, continue lendo para saber mais.


Plagiocefalia posicional


A plagiocefalia posicional pode ocorrer por fatores pré ou pós-natais.


Entre os fatores pré-natais, podemos citar deformidades uterinas (como aderências ou septos, gestação gemelar), baixa quantidade de líquido amniótico ou quaisquer situações em que o bebê fique mais tempo em uma mesma posição. 


Além disso, existem os fatores pós-natais, como: 


  • Vício de posicionamento (muito tempo no bebê-conforto, por exemplo);
  • Torcicolo congênito;
  • Apoio viciado durante o sono. 


Após a campanha Back to Sleep da sociedade Norte Americana de Pediatria em 1992, houve um aumento significativo das plagiocefalias posicionais associadas ao vício de posição durante o sono. 


Na plagiocefalia posicional, o diagnóstico é feito pelo neurocirurgião no próprio consultório, por meio da anamnese em conjunto com o exame físico. São avaliados fatores como:


  • Há uma posição preferida para dormir?
  • Existem limitações de mobilidade cervical?
  • Houve melhora da deformidade?
  • Ao exame físico, quais as características dessa assimetria? 


Formas de prevenção


O melhor tratamento para a plagiocefalia posicional é a prevenção. Portanto, é importante que, durante as consultas de puericultura, o pediatra ofereça orientações, como por exemplo:


  • Alternar a posição ao longo do dia;
  • Não deixar que o bebê amamente sempre do mesmo lado;
  • Alternar o lado em que a criança dorme a cada semana;
  • Fazer o Tummy Time pelo menos 3 vezes ao dia;
  • Evitar longos períodos em cadeiras de transporte.


Tratamento


Quando a alteração já está estabelecida, apenas as orientações de prevenção não são suficientes e é preciso iniciar um tratamento estruturado. Habitualmente o tratamento se dá com o apoio do pediatra, neurocirurgião infantil e fisioterapeuta. 


Sempre devem ser instituídas medidas comportamentais (estímulos visuais para o lado desejado, elevação do colchão do lado afetado para aliviar a pressão), associadas a exercícios guiados pelo fisioterapeuta. E, em casos específicos, o neurocirurgião pode indicar o uso de órteses. 


Leia também:


Puericultura: da capacitação à abertura do consultório


Respondendo às perguntas dos pais e cuidadores


No início deste texto, citamos algumas das perguntas mais frequentes entre pais e cuidadores. É preciso destacar que tudo varia de acordo com o caso, mas toda assimetria craniana deve ser avaliada por um neurocirurgião pediátrico, que vai indicar, inclusive, se e quais exames de imagens são necessários.

Além disso:


  • O uso do capacete só deve ser iniciado a partir da avaliação de um neurocirurgião;
  • A assimetria craniana não é uma questão unicamente estética. Nos casos da cranioestenose verdadeira, pode haver quadros de hipertensão intracraniana crônica, déficits neurológicos e o comprometimento do desenvolvimento neuropsicomotor. Além disso, a questão estética pode levar a graves consequências quando associadas ao bullying ou a questões psicológicas, por exemplo.


Fechamento da moleira


O fechamento da moleira de forma isolada não é indicativo de patologia. É importante avaliar se existe alteração de perímetro cefálico associado, e/ou fechamento de suturas. 


Conclusão


Em resumo: a assimetria craniana é um assunto pertinente à puericultura. Portanto, é muito importante informar-se a respeito para saber orientar os pais e cuidadores corretamente e fazer o devido encaminhamento quando necessário.


Conteúdo revisado por Renata Gobbato, neurocirurgiã pediátrica da equipe Eludicar.


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